Os percursos da arte não são uniformes. Cada criador visual constrói a sua jornada em um misto de esforço próprio e de adaptação e de instinto ao lidar com as circunstâncias. Lu Gaudenzi, nesse aspecto, tem na ocupação das manchas no espaço um de seus principais recursos para trabalhar as suas proposições e saudáveis incertezas do fazer.
Ao espalhar suas tintas e ao instaurar seu gesto, estabelece uma dinâmica não apenas técnica, mas visceral. Surge uma discussão entre o que se deseja fazer e o que de fato se consegue. As obras são construídas nessa dinâmica permanente de movimentos no espaço e no tempo.
Nesse entendimento simbólico da arte como uma vereda, a marca de pés na obra, sejam próprios ou alheios, constitui uma alegoria do corpo como vestígio arqueológico e simbólico da presença de si mesma em cada criação. Introduz assim uma articulação filosófica de ver cada realização como parte de uma trajetória maior.
O caminhar se dá em conceber cada obra como uma parte de um todo. Ela carrega a história da anterior, complementando-a e anunciando o desenvolvimento da próxima, renovando e ampliando as questões propostas, fundindo, a cada nova realização, a sensibilidade, o aprimoramento técnico e o fazer indagador e criativo.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.